quinta-feira, 28 de outubro de 2010

A XamAM em entrevista


A XamAM Alba Maria esteve recentemente em entrevista na Alemanha. Ela é a responsável pelas pesquisas e desenvolvimento da Fábrica de Beleza Sharimar e os cosméticos naturais.
Confira!

-Ecologia e Xamanismo. Eco-logia, oikos + logos, o que o Xamanismo traz para o entendimento e o movimento da ecologia?

Alba Maria: Eu acho que o Xamanismo traz muito, porque eu considero os xamãs os zeladores da natureza, os cuidadores, os guardiães da natureza, e isso não é de agora, isso vem dos tempos ancestrais, tudo que a gente trabalha, todo nosso conhecimento, toda a sabedoria que a gente, os xamãs tem, toda a medicina que a gente utiliza, vem da natureza. Então mesmo por questão de sobrevivência... pode ser por Amor, isso é um paradigma: a gente ama a natureza, mas eu acho que além disso tem a nossa própria sobrevivência , a sobrevivência da tradição xamânica, sem a natureza não tem tradição, porque ela é a mestra, ela é a rainha, por isso a gente é muito vinculado à natureza. O movimento ambientalista, ele em nós já é inato, a pessoa não se torna ambientalista, o xamã já é um ambientalista, ao passo que para outras pessoas não, elas se tornam, elas conhecem aí de repente elas despertam, a gente não, a gente já é despertado porque o estudo da gente é na natureza.

- Como é que seria uma educação ambiental para a Terra. Como é que a educação ecológica acontece em Terra Mirim?

AM: A educação ecológica também, como todo processo da Mirim, ela parte de um princípio fundamental nosso, que a gente criou, chamado Ecologia Integrativa e a nossa metodologia é toda baseada na ecologia integrativa, não só a educação da escola, mas tudo, tudo na mirim é fundamentado na ecologia integrativa, onde pra gente esta vinculação entre o que existe dentro do ser humano e fora do ser humano, a natureza em si, a natureza como as pessoas conhecem: com árvores, animais, vegetais, minerais, e a nossa natureza interna, ela tem um vínculo profundo, uma sem a outra não consegue sobreviver. Eu sinto que, como xamã e daqui da FTM, eu sinto que o grande salto da educação formal, dessa educação que o sistema criou e segue, seria a vinculação, o reencontro, dessa natureza interna do ser humano seja ele criança, adolescente.., ser humano, com a natureza, esse respeito, essa semelhança que existe entre nosso corpo, nossos corpos e o corpo da natureza. Sinto que este seria um grande salto da humanidade em termos de educação – seria a vinculação novamente, o fortalecimento deste vinculo entre este ser, chamado humano e esse ser, chamado natureza englobando tudo inclusive a subjetividade da natureza. Matemática, todas essas matérias criadas pelo ser humano, pelos conceitos, pelo conhecimento dessa ciência aí, pra mim ele deveria ser todo repassado, todo visto por este ângulo da natureza, por exemplo, se uma semente gera mil frutos, que matemática é essa, onde um gera mil? Seria uma discussão muito mais profunda, mais rica, ao invés de um mais um são dois, se um é mil, como pode isso? Seria essa discussão mais uma reflexão, a possibilidade de trazer essa Matemática subjetiva, esotérica, xamânica. E as pessoa aprenderiam dessa forma, a paciência, é olhar o dia passar e a noite chegar, observar profundamente o tempo, o tempo maior, não o tempo cronológico, mas esse tempo maior, eu acho que daria um conforto ao ser humano, e lógico que ele aprenderia e assimilaria com muito mais rapidez, e alegria, porque na nossa educação formal existe a tristeza, existe a depressão da educação, a depressão da saúde, significa a falência destas instituições. O ensino está deprimido, ele não pulsa, ele não vibra, consequentemente os educandos não podem ser felizes, então eles não vão para as salas de aula felizes, por isso existe tanta violência, onde não existe felicidade tem que existir violência, porque não existe pulsação, a vibração. Então, onde colocar vibração nesses seres, que trazem a violência pra sala de aula, dizendo: olha aqui não tem vida, eu não quero ficar na morte, então eu vou matar a morte. E aí a violência se expande mais e mais.

- As viagens para outros países. Qual o objetivo, o que as pessoas buscam nas suas vivências e o que elas encontram?

AM: O que elas encontram eu não sei bem. A minha meta é que elas encontrem elas mesmas. Eu busco isso, e em cada viagem que eu faço, em cada lugar que eu vou, é que as pessoas encontrem suas origens, seus ancestrais, seus mitos, sua força, reencontrem as forças da natureza, mergulhem nessa natureza tão bonita e não se dissociem dela, mas sejam um com ela, que não haja separatividade entre mim e esse outro, chamado natureza, que está lá fora mas está dentro de mim. As minhas viagens essencialmente buscam isso, isso tudo dentro da linha do Xamanismo, da linha da Deusa Mãe.

- A situação da Terra hoje e o chamado dos filhos da Terra , norte e sul.

AM: Eu acho que a Terra está chamando não é de hoje, “é de hooje”, é de muito tempo, é um chamado muito forte. Agora, talvez, esteja mais visível, mais presente, esteja mais explicito, porque existe a tecnologia e a tecnologia traz isso muito explicitamente, todos os furacões, os desastres ecológicos, as degradações, toda destruição que o ser humano provoca na terra, então hoje é muito rápido, a gente sabe muito rápido essas coisas, e como a gente está sabendo em uma velocidade quase temporal, no tempo que está acontecendo quase no mesmo tempo a gente está sabendo, então eu acho que isso está causando uma inquietude muito grande em nós e aí aparentemente está se buscando mais hoje, mas acho que o que está fazendo esse movimento todo é a informação, é a informação rápida, no tempo mesmo, que existe. Se isso me inquieta, se eu vejo algo acontecendo no Paquistão todas as enchentes, se vejo furacão lá na Islândia, se eu vejo aqui as enchentes, isso tudo me causa uma inquietude terrível, então eu vou ter que fazer alguma coisa, porque não vou ficar com toda essa informação dentro de mim sem fazer nada, aí eu tenho que fazer alguma coisa e aí cresce os movimentos ambientalistas, cresce os institutos que cuidam dos animais, dos minerais e dos vegetais. Mas eu acho que a Terra fala hoje o que ela já falou a milhares de anos, o cuidado com a natureza, porque ela é a casa, né? Então ela mostra pra gente como é que ela está, ela sempre mostrou isso, só que agora o movimento está mais forte, por isso, por toda essa informação, a gente é bombardeado pela informação, né? Felizmente, porque se não, eu não sei o que seria, então o mundo está se tornando muito unido neste sentido, né? O que eu sei hoje a Espanha está sabendo no mesmo instante, a Australia esta sabendo, a Indonesia está sabendo, então é tudo no mesmo instante, são muitos pensamentos no mesmo instante, o consciente coletivo está muito mais forte neste sentido, muito mais forte.

- “Xamã não deixa rastros”.

AM: Para nós xamãs, é importante a gente chegar em um lugar e deixar o melhor que a gente pode. Não deixar nossa sujeira, nossa imundice, nossos plásticos, nossa raiva, nossos sentimentos degradados e degradantes, sentimentos de destruição, eu acho que a obrigação nossa é chegar em um lugar e dar o melhor àquele lugar, se você não deixa melhor, que pelo menos deixe como estava, sendo que você pode dar o seu melhor. E, eu vejo as pessoas chegarem às praias e deixarem tudo sujo, chegarem para fazer um rito e deixa a fogueira suja, chega em um lugar e deixa ponta de cigarro. Eu não entendo isso, pra que tanto rastro? Pra que, pra dizer que eu estive ali? É dessa forma que eu quero ser lembrada? Eu quero ser lembrada como alguém que chegou ali e deixou o melhor, como alguém que chegou ali e ajudou a construir ou reconstruiu algo, e não como alguém que colaborou com a destruição. Por isso eu falo que Xamã não deixa rastro.

- Terra Mirim. Por que Terra Mirim?

AM: Eu acho que é uma missão. Eu sinto que é uma missão que a Deusa mãe colocou na minha mão, como primeira sonhante, eu tento cada vez mais repassar esse sonho com pessoas que sonham como a deusa mãe colocou o sonho em mim. Hoje eu busco sonhantes, pra que a gente possa construir algo novo, pra que a gente possa servir de referência, pra que a gente possa construir junto com o povo que nada tem, nada tem eu digo não só financeiramente falando, mas nada tem também de espiritualidade, nada tem também de sentimentos bons, eu sinto que a gente precisa doar a essa carência enorme que existe pelo menos a esses irmãos e irmãs que estão mais junto da gente, mais próximos, o melhor da gente e poder partilhar o pão, não só o pão físico, porque este pra mim é uma obrigação da humanidade, não é nada do outro mundo, isso pra mim teria que ser obrigação, mas não só partilhar o pão físico como o pão espiritual também, o emoicional, a paz, a segurança, o riso, a alegria, a felicidade. Terra Mirim tem esta missão, eu penso nela com essa missão, cuidar da natureza, partilhar, partilhar a natureza, partilhar a vida, partilhar tudo, sinto que é um campo de partilha, campo de luz e partilha, hoje se fosse colocar o nome dela eu colocaria Terra Mirim - Centro de Luz e de Partilha.

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